O trigo representa 30% da produção mundial de grãos, sendo o segundo grão mais consumido pela humanidade. O Brasil é o 8º maior importador de trigo do mundo, mas esta posição pode mudar nos próximos anos. Nos últimos cinco anos, a produção brasileira cresceu 76%. Os resultados de 2022 mostram a maior safra de trigo da história do Brasil, chegando aos 9,5 milhões de toneladas de grãos.
Quando foram intensificadas as pesquisas com o trigo no Brasil, na década de 1970, a produção tritícola nacional era incipiente, com cultivares de baixo rendimento e inexistência de tecnologias agrícolas apropriadas. Nessa evolução, a média de produtividade das lavouras brasileiras saiu de 800 quilos por hectares (kg/ha) em 1970 para um rendimento superior a 3000 kg/ha em 2022. Entre 1977 e 2022, o crescimento na produtividade foi, em média, de 3,5% ao ano (série histórica CONAB).
Evolução para garantir o abastecimento
O trigo é o segundo alimento mais consumido no mundo, logo após o leite e derivados. A medida em que o desenvolvimento econômico evolui nos países, também aumenta a ingestão calórica. É neste cenário que, nos últimos cinco anos, o consumo de trigo cresceu 8% no mundo, enquanto a produção cresceu 4,6% no mesmo período (USDA).
No Brasil, nos últimos cinco anos, a produção de trigo cresceu 76%, enquanto a área cresceu 50% e o consumo cresceu 4,2% (CONAB). Ainda há espaço para crescer já que o consumo brasileiro de trigo é estimado em 53 kg por habitante ao ano, metade do consumo dos europeus, por exemplo (Abitrigo).
Na questão de aumento da área, novas fronteiras têm sido prospectadas pela pesquisa em diversos ambientes do País, de norte à sul, intensificando os sistemas de produção agropecuária já existentes, com o trigo na rotação de culturas, na alimentação animal e no melhor aproveitamento de áreas que ficam ociosas no inverno.
Em 2015, o Brasil colheu 5,5 milhões de toneladas (t.). Em 2020, a produção chegou a 6,2 milhões t. Em 2021, atingiu 7,7 milhões t. Em 2022, a safra encerrou com 9,5 milhões t., volume que atende 76% da demanda nacional. Projeções da Embrapa Trigo indicam que, caso a produção de trigo continue crescendo 10% ao ano, o Brasil poderá chegar aos 20 milhões de toneladas até 2030. Com o consumo interno estimado entre 12 e 14 milhões de t., o Brasil poderá exportar o superavit para o mundo, saindo de grande importador para entrar na lista de países exportadores de trigo no mercado internacional.
Em 2022 (janeiro a novembro), o volume de exportações chegou a 2,5 milhões de toneladas, mais do que o dobro do volume exportado no ano anterior. Por outro lado, as importações brasileiras tiveram queda de 9,7% devido à maior oferta do cereal no mercado interno e aumento de preços internacionais (MDIC).
Para Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, o trigo está seguindo o mesmo caminho que o milho e a soja percorreram no Brasil, é já começa a alterar a geopolítica de grãos no mundo. “O Brasil tem área, conhecimento e demanda aquecida. A expansão do trigo no País precisa assegurar tanto a oferta de alimento de qualidade ao consumidor, quanto a rentabilidade do produtor. Para isso é necessário diversificar mercados, internos e externos”, ressalta Lemainski.
Fertilização na cultura do Trigo
Para aumentar a produtividade do trigo, é fundamental investir no solo. Dois nutrientes são fundamentais: o nitrogênio e o fósforo. Conforme o site da Empraba, embora a recomendação de adubação para a cultura do trigo seja norteada por critérios diferentes entre os estados, a finalidade é elevar o teor de nutrientes no solo a quantidades suficientes para que o trigo expresse seu potencial de rendimento, quando atendidos outros fatores limitantes (água, sanidade de plantas, controle de plantas invasoras, condições de clima, etc.). Dessa forma, a recomendação de adubação será aqui descrita por estado onde a cultura do trigo é recomendada para cultivo, de acordo com o zoneamento agrícola aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (pode ser consultado em http://www.agricultura.gov.br) (BRASIL, 2013).
Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina
Nitrogênio
A recomendação de adubação nitrogenada considera, como fator preponderante, o teor de matéria orgânica do solo, as culturas antecedentes, se leguminosas ou gramíneas, e a expectativa de rendimento da cultura de trigo. Deve-se aplicar entre 15 a 20 kg de N/ha na semeadura e o restante em cobertura, entre os estádios de alongamento e afilhamento. Considerando interação entre o clima e o nitrogênio, do solo ou aplicado, há necessidade de restringir a adubação nitrogenada nas regiões mais quentes (e de menor altitude) a, no máximo, 40 kg de N/ha, independentemente do teor de matéria orgânica no solo, pois poderá ocorrer tendência de acamamento da cultura. Por outro lado, nas regiões mais frias (e de maior altitude), o aumento da dose de nitrogênio em relação à recomendação deverá resultar em melhoria na produtividade do trigo.
As doses de nitrogênio indicadas para a produção de trigo para rendimento de grãos acima de 2 t/ha são apresentadas na Tabela 3.
Tabela 3. Quantidades de nitrogênio indicadas para a cultura do trigo, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Teor de matéria orgânica no solo | Cultura antecedente | |
Leguminosa (soja) | Gramínea (milho) | |
—- % —- | ————————- kg N/ha ————————- | |
< 2,5 | 60 | 80 |
2,6 – 5,0 | 40 | 60 |
>5,0 | ≤20 | ≤20 |
Para a expectativa de rendimento maior do que 2 t/ha, acrescentar aos valores da tabela 20 kg de N/ha em trigo após leguminosa e 30 kg de N/ha em trigo após gramínea, por tonelada de grãos a serem produzidos.
Fonte: Manual… (2004).
Além dos critérios usados na Tabela 3, é importante considerar que a disponibilidade de N no solo é dependente de vários fatores, como o histórico de cultivo da área, as condições climáticas, a época de semeadura, a incidência de doenças e a estatura da cultivar, pois podem afetar o grau de resposta da planta ao fertilizante nitrogenado aplicado. A redução de perdas pós-aplicação de nitrogênio na cultura deve ser uma meta a ser buscada. Dessa forma, os cuidados em relação à umidade do solo devem favorecer a dissolução e o transporte pela água do fertilizante nitrogenado para o interior do solo. Cabe ressaltar que aplicar nitrogênio na expectativa de elevada precipitação favorecerá perdas por lixiviação. Além disso, a fim de evitar perdas de N por volatilização, principalmente quando da utilização de ureia, sugere-se aplicar o fertilizante nas horas menos quentes do dia. Para distribuição uniforme a lanço, períodos com ventos fortes devem ser evitados.
Para as doses mais elevadas de nitrogênio em cobertura, pode-se optar pelo fracionamento em duas aplicações: no início do afilhamento e, o restante, no início do alongamento. A aplicação tardia de N em cobertura, após a fase de emborrachamento, geralmente não afeta o rendimento de grãos, mas pode aumentar o teor de proteína do grão, sem que, necessariamente, em todas as situações, o valor de W (força de glúten) seja alterado a tal ponto de modificar a classificação comercial do produto colhido.
Fósforo e potássio
As quantidades de fertilizante fosfatado e potássico a aplicar na cultura do trigo é pautada pela variação dos teores de P e K no solo (Tabela 4). Devem-se aplicar os fertilizantes visando manter o nível crítico de P e K no solo, pois é, normalmente, onde se obtém rendimentos próximos a máxima eficiência econômica da cultura. Nesse caso, considera-se o limite inferior da faixa “Alto” como nível crítico de P e de K no solo, cujo nível deve ser mantido pela aplicação de quantidade adequada de fertilizante. A partir do limite superior do teor “Alto”, a probabilidade de resposta à aplicação desses fertilizantes é muito pequena ou nula.
Tabela 4. Interpretação dos teores de fósforo e de potássio no solo, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Teor de P ou de K no solo | P Mehlich-I | P-resina em lâmina | K Mehlich-I | |||||
Classe textural do solo(1) | CTCpH7,0 (cmolc/dm3) | |||||||
1 | 2 | 3 | 4 | ≤5,0 | 5,1-15,0 | >15,0 | ||
——————— mg P/dm3 ——————– | ——- mg K/dm3 ——- | |||||||
Muito baixo | ≤2,0 | ≤3,0 | ≤4,0 | ≤7,0 | ≤5,0 | ≤15 | ≤20 | ≤30 |
Baixo | 2,1-4,0 | 3,1-6,0 | 4,1-8,0 | 7,1-14,0 | 5,1-10,0 | 16-30 | 21-40 | 31-60 |
Médio | 4,1-6,0 | 6,1-9,0 | 8,1-12,0 | 14,1-21,0 | 10,1-20,0 | 31-45 | 41-60 | 61-90 |
Alto | 6,1-12,0 | 9,1-18,0 | 12,1-24,0 | 21,1-42,0 | 20,1-40,0 | 46-90 | 61-120 | 91-180 |
Muito alto | >12,0 | >18,0 | >24,0 | >42,0 | >40,0 | >90 | >120 | >180 |
(1) Teor de argila: classe 1= >60%; classe 2= 41-60%; classe 3= 21-40%; classe 4= <=20%.
Fonte: Manual… (2004).
As quantidades de P (P2O5) e de K (K2O) a serem aplicadas (Tabela 5) devem considerar, além da quantidade necessária destes nutrientes para o solo atingir o limite superior do nível “Médio” em duas safras/culturas (adubação de correção), a exportação desses nutrientes pelos grãos acrescido de perdas naturais do sistema. Nas faixas de teores “Muito baixo”, “Baixo” e “Médio”, a diferença entre a quantidade indicada em cada cultivo e a manutenção é a adubação de correção, ou seja, é a quantidade necessária para elevar o teor do nutriente no solo ao nível crítico em duas safras. As quantidades indicadas na Tabela 5 presumem um rendimento aproximado de 2 t/ha. Para rendimentos superiores, deverão ser acrescentados aos valores da tabela, por tonelada de grãos, 15 kg de P 2O5 e 10 kg de K2O.
Tabela 5. Quantidades de fósforo e de potássio a aplicar ao solo para a cultura do trigo, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Teor de P ou de K no solo | Fósforo (kg P2O5/ha) | Potássio (kg k2O/ha) | ||
1º cultivo | 2º cultivo | 1º cultivo | 2º cultivo | |
Muito baixo | 110 | 70 | 100 | 60 |
Baixo | 70 | 50 | 60 | 40 |
Médio | 60 | 30 | 50 | 20 |
Alto | 30 | 30 | 20 | 20 |
Muito alto | 0 | ≤30 | 0 | ≤20 |
Nos teores “Muito Baixo” e “Baixo” a dose indicada inclui 2/3 da adubação de correção no primeiro cultivo e 1/3 da adubação de correção no segundo cultivo. No teor “Médio” toda a adubação de correção está inclusa no primeiro cultivo.
Fonte: Manual… (2004).
Decorridos dois cultivos após a aplicação das quantidades indicadas, recomenda-se amostrar e analisar novamente o solo, para verificar se os níveis de P e de K atingiram os valores desejados e, então, planejar as adubações para cultivos subsequentes.
Com informações da Embrapa