A BRAVYA conversou com o Diretor do Departamento de Economia Rural da SEAB, com um climatologista e engenheiros agrônomos para saber sobre os impactos da geada no campo. Perdas significativas devem ser confirmadas no Oeste do Paraná, principalmente na cultura do milho.

Texto: Guilherme Bittar

As formações de geadas, como as registradas nesta semana na região Sul, são o grande temor dos produtores rurais. Muitos deles viram plantações inteiras serem perdidas. Os impactos mais significativos devem ser confirmados no Oeste do Paraná e de Santa Catarina – mas outras regiões também foram afetadas.

Geada na terça-feira, em Guarapuava. Foto: Guilherme Bittar

Nessa terça e quarta-feira, dias 29 e 30 de junho, boa parte do Paraná, e ainda regiões de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul amanheceram sob forte formação geada. Na região Centro-Sul, Oeste e Sudoeste do Paraná, o fenômeno teve incidência moderada, o que já é bastante prejudicial para algumas culturas, principalmente aquelas em estágio de formação de grãos. Na terça-feira, em Guarapuava-PR, as temperaturas chegaram a -1°C no ar e -3°C no solo.

A cultura mais afetada é o milho, principalmente nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná e Santa Catarina. Ainda é cedo para mensurar os danos, conforme o Diretor do Departamento de Economia Rural da SEAB ·(Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento -do Paraná), Salatiel Turra, que falou com exclusividade à BRAVYA.

Diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) Salatiel Turra. Foto: Divulgação/SEAB

Um vídeo de um produtor em uma lavoura de Corbélia, no Oeste do Paraná, circulou nas redes sociais ontem. Na gravação, o produtor lamenta:  “Infelizmente, não vai sobrar quase nada. O milho tinha potencial muito bom”.

No Sudoeste, as recentes geadas causaram perdas. Contudo, a região já havia sentido as manifestações de um mês atrás, que prejudicaram a soja, feijão e milho – sendo que esta cultura foi a mais atingida dessa vez, pois ainda se desenvolvia em algumas áreas. Os agricultores comentam que a recente geada terminou de matar as plantações.

As perdas referentes às geadas desta semana foram maiores no Oeste do Estado, que não havia sofrido com formações anteriores neste ano e onde está a maior parte do milho na lavoura. Segundo o Representante Técnico de Vendas da BRAVYA Fertilizantes, o Engenheiro Agrônomo Marcos Faneco, a geada afetou mais de 1 milhão de hectares na região e os impactos devem ser sentidos em toda a cadeia do agro e no preço da carne, pois o cereal é usado como ração. Com a redução de produção, o preço deve subir e refletir no custo. Assim, impacto final também é para o consumidor.

Segundo Salatiel, os reais impactos das recentes geadas devem ser conhecidos dentro de um mês. “Existirá alguma redução em razão das geadas, mas ainda é muito precipitado sem termos comprovação concreta. Os técnicos estão em campo fazendo levantamentos”.

Embora ainda seja cedo para mensurar os danos, o produtor rural sabe que quando a geada é forte, as perdas em algumas culturas são inevitáveis. E, às vezes, grandes. “O milho é uma das principais culturas afetadas pela geada. 70% da cultura do milho está em formação de grão, quando há uma suscetibilidade maior a adversidades climática”, explica Salatiel. Por outro lado, ele comenta que boa parte do milho nesse estágio está localizada no Norte do Paraná, onde as temperaturas baixaram menos e, portanto, os impactos são menores.

Salatiel pondera que a estimativa divulgada na semana passada pela Seab já apontava queda sensível na produção agrícola – 8% a menos em relação ao ciclo anterior, num total de 38 milhões de toneladas -, em razão da estiagem, o que pode se agravar com as geadas desta semana.

Lado positivo?

Embora temida pelos produtores, a geada também pode ter impactos positivos – naturalmente, dependendo da cultura e do estágio de desenvolvimento.

Salatiel explica que baixas temperaturas – não necessariamente geadas – favorecem culturas de inverno, contribuindo para a perfilhação das plantas. Segundo ele, no caso do trigo, por exemplo, 95% da área já está plantada e boa parte em condições boas e médias de desenvolvimento.

Os impactos positivos das baixas temperaturas envolvem a prevenção de doenças, eliminação de pragas, plantas daninhas e insetos e, ainda, controle de vegetação fora de época. “Reduz muito a densidade desses patógenos. As plantas de inverno, de modo geral, se beneficiam do frio, perfilham mais e tende a ter melhor produção. O frio faz parte do metabolismo dessas plantas, desde que não seja excessivo”, explica o engenheiro agrônomo, professor da Unicentro e climatologista, Sidnei Osmar Jadoski .

O cenário é outro quando envolve culturas de verão, fruticultura e hortaliças. “Hortaliças são muito suscetíveis, mas têm poder maior de regeneração e de se reestabelecer num curto período comparadas a outras culturas”.

Mesmo com possíveis efeitos positivos, no campo a geada está longe de ser bem vista. “Diminui as pragas, mas algumas culturas morrem, e os agricultores se retraem para fazer investimentos na próxima safra”, pondera o representante técnico de vendas da BRAVYA Fertilizantes, o engenheiro agrônomo Flavio Borgo. “O problema é o prejuízo com o que se perdeu agora. Acredito que o benefício seja pequeno em relação ao prejuízo”, completa o Engenheiro Agrônomo, Marcos Faneco.

Para Jadoksi, plantas bem nutridas tendem a ser mais resistentes e sentir menos as geadas, quando estas têm incidência fraca.

Inverno forte

Jadoski comenta que a tendência é que este inverno seja mais rigoroso ante igual estação do ciclo anterior. “O inverno está sendo intenso, mais bem definido que os demais. Começou a esfriar no outono. Teoricamente, espera-se para julho e agosto frios mais intensos”.

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