No Dia Internacional da Mulher, a Bravya conta a história de três mulheres que fazem a diferença no campo. Conheça a Sintia, a Danielle e a Andreia

Quem conhecesse a Sintia Nogueira Ferrari, 42, há uns 15 anos dificilmente diria que ela se tornaria uma agricultora de mão de cheia. Ela, que já foi enfermeira e teve salão de beleza, hoje comanda o setor leiteiro de sua propriedade, em Botelhos-MG.

É trabalho que não acaba mais. E começa bem cedo. Às 4h da manhã, se inicia o processo de ordenha das cerca de 120 vacas da propriedade, cada uma delas diariamente periciadas por Sintia. É ela quem avalia se os animais estão bem de saúde, e aplica medicações e vacinas.

O pai de Sintia trabalhava na área agrícola, no entanto, quando criança e adolescente, Sintia nunca demonstrou interesse pelo campo. Ela “virou” agricultora um pouco por necessidade, pois a produção sempre dava problemas. Então, Sintia resolveu enfrentá-los pessoalmente, para melhorar a produtividade. Estudou, foi em busca de informações e colocou a mão na massa.

Sintia brinca que trocou uma prisão por outra – tanto o ofício como enfermeira quanto o salão de beleza eram atividades que exigiam esforço, e agora mais ainda com a propriedade, onde há uma vastidão de itens a serem resolvidos todos os dias.

Apesar da rotina corrida, ela afirma que se sente realizada no campo. “Eu gosto da liberdade de poder fazer as coisas do meu jeito”.

A agricultora acredita que já tenha atingido suas metas, ao aumentar a média de produção diária de 800 litros para 3 mil litros de leite. O foco é manter o índice de produtividade e a qualidade do leite. Para isso, a presença dela é fundamental, pois uma boa produção requer animais saudáveis e com alimentação balanceada.

“É muito orgulho de ser mãe, esposa e agricultora. Meu sonho era chegar onde cheguei”

Agricultora desde pequena

Diferente de Sintia, Danielle Rodrigues Munhoz Colleta, 38, de Mamborê-PR, já “nasceu agricultora”. De família de agricultores, ela cresceu na lavoura. Depois, buscou conhecimento na área, formando-se em Agronomia.

Danielle ao lado do pai e da filha. Arquivo pessoal

Embora o setor agrícola ainda seja muito masculino, Danielle diz que a realidade vem mudando e é cada vez mais comum encontrar mulheres em atividades estratégicas no campo.

Segundo ela, a mulher sempre teve atuação no campo, mas antigamente não era notada. As mulheres faziam diferentes atividades dentro da propriedade, no entanto, quem ia à cidade cuidar de negócios e da parte administrativa eram os homens. “A mulher sempre teve função na propriedade, desde o tempo da minha vó. É que não aparecia fora da porteira, não tinha contato com agrônomos e revendas. Hoje, as mulheres estão fazendo qualquer função. Seja montar numa máquina, colher, ou cuidar da parte administrativa e técnica”.

O conhecimento técnico, na opinião de Danielle, faz diferença hoje no campo. “Para ser agricultor tem de estudar. O agricultor em si é muito trabalhador e precisa adquirir experiência e informação. O agro não permite mais ser amador”.

Danielle ao lado da filha e do marido

Além da constante busca por conhecimento, ser agricultor significa acordar todos os dias com uma lista enorme de coisas a serem feitas, muitas delas que não poderão ser realizadas naquele dia, pois outras emergências aparecerão no meio do caminho.

“O agricultor faz o trabalho braçal, serviço do campo, e ainda tem que ser um administrador, mecânico de maquinas e estar ligado nas notícias, para definir o melhor momento de compra e venda insumos”.

A palavra que define o agricultor, para ela, é polivalente. Um aspecto fundamental, segundo ela, é cuidar bem do solo, para que as intempéries climáticas tenham pouca interferência na plantação. “Tem que saber um pouco de tudo, levantar cedo, olhar para o céu e pedir chuva”.

Uma história de superação

Assim como Danielle e Sintia, Andreia de Melo Soares, 41 anos, atua na cadeia do Agro, mas não diretamente na propriedade. Ela é gerente de duas filiais da Afubra, umas principais lojas agrícolas da região de Rio Negro-PR, e que atua na venda de insumos, fertilizantes, defensivos, sementes, e linhas de implementos de diversas culturas.

Andreia é gerente de duas filiais da Afubra

A história de Andreia é de muita luta. De família humilde, ela rompeu a primeira barreira ao concluir o curso superior em Administração. Desafio dobrado, pois foi mãe aos 18 anos. Muitas vezes levou a filha junto para a faculdade, para não perder aulas.

A trajetória dela na Afubra começou há 21 anos. Primeiro, como auxiliar de vendas. Anos mais tarde, chefiando duas unidades. Andreia não vem de famílias de produtores e não tinha um conhecimento teórico robusto, então teve que provar dia após dia sua capacidade.

“Eu aceitei o desafio, pois conhecia e já atuava em vários setores internos. No começo, tive certa resistência. Me vi entrando como líder de um setor sem ter conhecimento teórico profundo nem prática. O ramo agrícola tem maior quantidade de homens que mulher”.

Então, ela que já era formada em Administração, teve de estudar ainda mais. Fez dois MBAs, um em Agronegócio e outro em Gestão de Pessoas, além de treinamentos e palestras direcionados especificamente ao setor agrícola.

Andreia representando a Afubra em evento. Foto: Arquivo pessoal

Hoje, ela diz que o cenário é outro, sem as desconfianças que enfrentou no início. “Agora sou bem recebida. Nas palestras que dou, sou ouvida”. Como gestora, dar oportunidade é uma de suas prioridades. Sempre que possível, ela busca inserir mulheres na equipe técnica.

“Estamos conseguindo mostrar que a mulher pode e consegue. É só dar a oportunidade”

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